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Vinho de Alenquer para os cinco continentes
(Artigo puplicado na revista nº1 da AAS, maio 2019)
Alenquer é o centro das operações da Casa Santos Lima. A quinta da Boavista, concretamente, na genuína Aldeia Galega da Merceana, rodeada por encostas cobertas de vinhedos, mais suaves que as de Montejunto, que por perto impera, soberano e protetor, que a abriga da nortada. Em pouco mais de 20 anos, desde que reformulou as vinhas plantadas pelo seu bisavô, José Luís Santos Lima, que deixou a banca para se dedicar ao negócio da família, dignificou os vinhos da Região de Lisboa, fê-los conquistar inúmeros prémios e exporta 90% da produção para mais de 50 países em cinco continentes. Este ano, a sua casa já produziu o equivalente a 20 milhões de garrafas.
"Digo o equivalente, pois uma parte é comercializado em bag-in-box, para os países escandinavos, mas também para os EUA e extremo Oriente", explica Santos Lima, na sala 'cénica' do núcleo habitável da quinta, que mescla o edificado original com o contemporâneo. A Boavista foi o ponto de partida da atividade da Casa Santos Lima e que lhe permitiu alargar a atividade a outras regiões, do Algarve, dos vinhos verdes, Alentejo e Douro, em terrenos alugados, ou por parcerias. Em absoluto, com as casas da Boavista e a Quinta do Conde, também em Alenquer, tem perto de 500 hectares. Os EUA é o principal mercado da casa. Segue-se a Suécia e o Reino Unido. Para ali seguiu, em 1996, após a colheita de 95, a primeira exportação.
Agora, a China já entrou para o top-5 das vendas. "Não foi uma opção, foi acontecendo. Aproveitámos bem o facto de não haver tantos vinhos portugueses como os há hoje nos mercados externos. Havia tanto desconhecimento quanto curiosidade pelo que começámos a produzir vinhos frutados, fáceis de beber. Fomos sendo bem acolhidos, com boa imprensa, com destaques e alguns prémios conquistados. Isso suportou a marca da casa e a própria imagem dos vinhos portugueses", historiou Santos Lima.
leg: José Luís Santos Lima tem já uma longa relação com a Sobralense e celebrou com João Penedo mais um passo para o reequipamento da Quinta da Boavista
Sinais de consistência
E concede que tais conquistas mudaram a face aos Vinhos de Lisboa: "Temos mostrado consistência, concurso após concurso. É um selo de garantia de qualidade, sobretudo para os mercados que conhecem menos bem o vinho e que se sentem mais confortados quando se sentem apoiados num prémio ou por um rating atribuído por uma revista americana." Mas alerta para o desafio da qualidade: "Temos a obrigação de continuar a supreender, com novos tipos de produtos e caraterísticas, mais frutados, ou com mais estágio em madeira e mais estrutura.
A Casa Santos Lima tem para cima de 200 referências vínicas, com castas maioritariamente nacionais, mas sem pruridos em utilizar as estrangeiras - "dão-se bem na região, designadamente na área dos tintos, casos da Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Alicante Buschet, e ainda as Sauvignon Blanc e Chardonnay." Mas a produtora não se diz inebriada com tais galardões: "Obviamente que ter o troféu de melhor vinho é interessante e a linha de atuação que temos seguido tem sido a mais correta. Há vinhos muitos bons que não têm esse tipo de prémios. Simplesmente, nem sempre concorrem."
Tamanha demanda por estes vinhos requer meios, mais uvas, mais vinho.
Terreno existe, mas as licenças são entrave." Tal demanda está a chegar da China. José Luís Santos Lima explica que há obstáculos: Na última feira que estivemos, a Prowine, em Dusseldorf, tivemos o maior pavilhão de sempre, com visitas de importadores de todo o mundo. De momento, estamos na China e é rara a semana que não estamos a viajar por todo o mundo. Os chineses já importam muito, mas não podemos plantar tudo o que queremos. A UE condiciona a plantação, pois permite apenas plantar, todos os anos, o equivalente a 1% da superfície vitícola nacional, que é de 1900 ha, o que é pouco face à vontade do setor para plantar. E é pouco porque 1% não chega sequer para repor a mortalidade natural das plantas. E também é pouco porque alguns dos critérios de atribuição dessas licenças dão excessivo peso aos jovens agricultores e associações de produtores, que nem sempre utilizam os direitos que lhes são concedidos, impedindo que, globalmente, o país cresça. Este ano estamos a acabar de plantar nos vinhos verdes e no Douro, mas sobretudo aqui, em Alenquer, perto de 500 hectares, o que é um esforço bastante grande."
Homens e mulheres acabam a faina e vão regressando ao centro da quinta. Regressam, também, os pulverizadores, mantém-se a preparar o solo um T7.260 com grade e rolo. Fora do espaço, um velho Fiat 604 de lagartas despedregava o solo para preparar nova plantação. Uma marca precursora que deu origem ao aglomerado da New Holland, como são todos os outros tratores da casa, frutos da longa relação com a Auto Agrícola Sobralense. São 14 ao todo, só na Quinta da Boavista.
O mais recente é um T4 N, com 100cv. Há duas máquinas de vindimar e depois uma panóplia de alfaias, também fornecidas pela casa de Sobral de Monte Agraço: trituradores, escarificadores, chísel, podadoras, despampanadeiras, levantadoras de sebe, intercepas, mobilizadoras de linha.
Com uma particularidade: o parque de máquinas não está a ser renovado, mas tão-só aumentado. E a prova disso mesmo é que, após o encontro com abolsamia, José Luís Santos Lima haveria de finalizar com a Sobralense novas aquisições - dois tratores New Holland T4 100N cabinados, dois trituradores TMC Cancela, dois pulverizadores pneumáticos Stagric, duas grades rápidas Agromet e uma cisterna de 5000 litros Herculano.